Três MC's em conjunto - Murilo SDC, Helibrown, Nego - fazem a releitura de sons conhecidos do Rap atual e dão a essas músicas a identidade que cada um carrega consigo. No ROLÊ DE IDEIA edição 8, eles do Coletivo Arte, contam pra gente sobre o projeto de remixes e de como se deu o processo criativo de conceber essa iniciativa. Dá um confere aí na entrevista realizada por Samuel Porfirio:
Samuel Porfirio: Estamos com Coletivo Arte: Murilo SDC, Helibrown, Nego E. Os três eu conheço individualmente, o Murilo eu conheço mais no freestyle... Pelo que eu percebi vocês pegam músicas já lançadas e fazem uma espécie de remix. Qual foi o critério que vocês usaram pra seleção?
Murilo SDC: Nossa ideia na real
partiu de uma música que eu queria remixar, e de um modo oficial com AXL, só
que incluindo o meu verso na música original. Ele falou: “mano, isso não dá pra
fazer, mas aí eu deixo a capela instrumental com você e você fica a vontade pra
fazer o que quiser." E aí eu chamei eles e a partir disso surgiu o Coletivo. E
pra escolher as demais músicas a gente pensou em pessoas que a gente respeite, músicos que a gente goste.
Nego E: Que a gente tem proximidade
também... Todo trabalho foi feito de forma autoral: as rimas, os freestyles... a
gente mapeou os beats de forma diferente, só que a gente queria ter a
autorização dos caras, não era só pegar da internet, ripar e tirar a voz num
programa qualquer, a gente queria a autorização e essa benção dos caras. Se
podia lançar, o que achou... se é passível de lançar... Pois você está mexendo na
música do cara, na criação do maluco...
Murilo SDC: E a gente escolheu
musicas que têm uma história pra contar também. Tem música ali pra mim que é
clássico do rap, tipo a "E se" e todas as músicas tem uma história muito boa com cada artista que é
dono dela, senão também fica muito fácil remixar uma música que o cara só fez
um barulho nela, e que não queria...
Samuel Porfirio: Inclusive cai no mesmo
tema que você puxou, pois você falou de clássicos, mas clássicos muitos atuais, os atuais
nomes do Rap brasileiro. E por que não um clássico mais antigo? RZO,
Racionais... Foi por conta dessa proximidade com os caras?
Helibrown: Exatamente, única e
exclusivamente por conta dessa questão. Acho que têm alguns sons que são
sagrados, não dá pra tocar... Não tem o que falar mais. A "E se", mano... Tanto que da "E se" dos versos que eu separei
dá pra escrever duas tracks ainda, que é um tema que dá pra abordar várias
paradas, tema muito vasto. A “Avua Besouro” é militância... é um tema que dá pra abordar
vários bagulhos. Não que os outros sons clássicos não tenham temas abrangentes
e tal, é mais pela questão de proximidade. Eu mesmo não tenho contato com
ninguém do RZO, já com o Emicida e com o Rashid a gente já tem um contato, os caras conhecem o nossos trampos. A gente tem um corre, a gente já
trampou junto...
Nego E: É uma coisa de geração
também né... A nossa geração querendo ou não cresceu com esse Rap que a gente
ouve agora, com os caras que a gente remixou. Exceto o AXL que é muito
contemporâneo nosso. Os caras: Rashid, Emicida e Kamau, já são mais velhos,
querendo ou não eles pegaram uma entre-safra diferente da nossa.
Murilo SDC: Não quer dizer que a
gente não ouve a old school, né, mas a gente ouve porque a gente estuda, não é um
bagulho que foi natural assim, cresceu ouvindo...
Nego E: É muito a questão de gosto. Talvez a gente tenha
preferido involuntariamente remixar essas. Nenhum momento que a gente se reuniu
pensamos em remixar o Racionais.
Helibrown: Até mesmo por estilo,
um exemplo: um rap que pra mim ele é clássico, tipo, RZO, “Pirituba”, é
clássico, mas eu não me imagino rimando. Se eu pego aquele beat, mano é foda, é
um trampo foda, mas eu não rimo no estilo. Já pegando a "E se" ou a "Avua Besouro" tem mais um pouco da
cara do Rap que eu faço.
Samuel Porfirio: E além dessas homenagens
aos nomes que inseriram vocês no rap, de repente assim, por inspiração, o que
mais que o Coletivo Arte trás como show?
Helibrown: Trás muita
diversificação. Já é uma proposta diferente, pois raramente você vê acontecer isso aqui no
Brasil e no rap na verdade. No rap
raramente você vê um cara remixando um trampo de outro cara que também tá na
mesma cena.
Murilo SDC: Remixando o cara pra
carregar o trampo, não só remixar e soltar na net, o som que a gente faz tem
esses remixes e a gente mistura com músicas solos.
Nego E: O Rap é muito ego
pra caramba né mano, o cara escreve a sua letra, você não canta a letra que
outro cara escreve, você não mexe no beat que
o outro cara fez, é muito ego, é meu é meu e é meu. A gente tentou desmistificar
isso falando: pow, se a gente admira o cara por que não fazer um som que o cara
já fez, com uma outra visão, com uma outra forma. O que a gente trás no show é muito do que a
gente trás no CD, que são estilos diferentes, são praticamente caras da mesma
idade, mas que rimam de formas completamente diferentes... Tem referências
talvez parecidas, mas escrever mesmo sai tudo cada um no seu estilo. O show que
a gente têm feito do Coletivo foram baseados só no cd, não em música solo. Mas
hoje a gente vai inserir umas músicas solos.
Murilo SDC: Essa de a gente ser
diferente até nos gostos, tem muita coisa em comum que a gente gosta. Acontece
da gente chegar, tipo: “Mano, Nego E, fulano é foda”, e ele, “não, fulano não é
foda”. E aí o Hellibrown a mesma coisa, e aí rola também esse conflito de gosto.
Nego E: Senão sairia tudo muito
empacotadinho, também.
Murilo SDC: Então é por isso que
dá certo desde quando a gente se junta, desde a primeira música fluiu dahora.
Samuel Porfirio: Eu particularmente
acho muito louca essa iniciativa, eu acho que o Rap precisa se disseminar
mesmo. A gente cresce ouvindo um som hoje, e a nova geração não vai ouvir porque de repente é gente que não conhecem... E os outros estilos crescem por
conta disso, eu acho que deveriam ter mais mc's covers também, caras que têm só o
flow mas não tem a capacidade de escrever ainda:
Nego E: Tem uns caras que estão
fazendo um projeto, o Cecílio e o Adriano, não sei se eles levam nome de MC's, e se chama Projeto Réplica, pelo que eu soube eles estão fazendo essa parada.
Tipo covers de rappers das antigas.
Murilo SDC: Eu mesmo quando
estiver lançando o meu EP, que tá na metade do processo, eu tenho a ideia de cantar um som
de um cara que eu sou muito fã, soltar a batida pra eu interpretar ela no show.
Eu acompanho muito o samba, por exemplo, vejo DVD de samba, pra caralho, e rola
muito isso, metade do repertório dele é música de outras pessoas. Não
necessariamente eu vou fazer metade do meu show com músicas de outras pessoas.
Por exemplo, uma música que eu gosto e é um clássico pra mim acho válido pra
caralho.
Samuel Porfirio: A música tem origem mais
necessariamente não precisa ficar naquilo pra sempre. Deixa um contato de
vocês, um salve pro pessoal que frequenta o Reação Hip Hop aí:
Nego E: é www.atfproducoes.com tem todos os links que direcionam os trabalhos solos e o nosso trabalho
conjunto, e da Inter Preto Ação também, artefacto produções, pequena produtora, estamos crescendo.
Helibrown: Um salve pro pessoal
do Reação que é uma iniciativa foda, militância musical também e resistência.
Murilo SDC:
Um salve pro pessoal do Engrenagem Urbana, eu acompanho lá, várias entrevistas,
várias iniciativas legais pra caralho, uma música diferenciada com banda,
louco. E muito obrigado aí, estamos aí!
Samuel: Muito obrigado por vocês terem
dado um salve aí, esse foi mais um rolê de ideia com Coletivo Arte, daqui a
pouco tem os caras ao vivo no Reação Hip Hop, é nóis!
As demais fotos do show estão lá na página do Reação Hip Hop no Facebook. Acesse:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1609030735988221.1073741851.1516131395278156&type=3
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