Pra conhecer um pouco mais sobre Ba Kimbuta, veja a edição do Rolê de Ideia. O músico que veicula por meio do canto e letra a causa racial e social tão imprescindível enquanto resistência, troca uma ideia rápida com a gente, se liga como foi:
Samuel Porfirio: Embarque num mais um Rolê de Ideia com Ba kimbuta, que já trás a africanidade no nome, e dentro desse tema eu já puxo a primeira ideia. Em tempos que as redes sociais e os grandes artistas simulam ou aderiram a oportunidade de lutar contra o racismo de uma forma meio estranha, o RAP vem sendo muito omisso em tema. Falar do tema como você trás nas suas músicas e no seu jeito, e até nas suas origens, te faz um solitário nessa terra aí?
Ba Kimbuta: Orra, às vezes sim
mano, eu tenho certeza que ainda existem vários grupos na base, que discutem a
questão racial, questão de gênero, tentam pensar essa sociedade e que papel a
gente tem nessa sociedade. Mas são grupos que estão na base, são grupos que
estão isolados, então talvez a mídia, e quem tá com mais acesso, passa
desapercebido. Mesmo sendo preto, sofrendo as opressões, às vezes tem uma
parcela na real, tanto do movimento quanto dos grupos ou pessoas autônomas, que parecem que não foram
atingidos. E o racismo vem atingindo em várias esferas mesmo, escancaradamente
ou ocultamente, que é uma das formas mais perversas que desenvolveu no Brasil.
É isso aí. Às vezes solitário mais as vezes também potencializado, pois eu sei
que na base tem os malucos preocupados com isso. Escrevendo sobre a questão
racial, tentando entender também... Mas é isso. Tipo capoeira de angola, tá
ligado? Só em alguns lugares que você vai achar aquela essência.
Samuel Porfirio: E o Ba kimbuta não vem só
trazendo o tema racial. Pelo que eu acompanho vem com vários temas, até porque
seu trampo se torna mais peculiar, vários seguimentos e referências. Pra quem
tá assistindo o seu show hoje no Reação Hip Hop, o que o pessoal pode esperar?
Ba Kimbuta: A gente tenta trazer
primeiro toda essa vivência que a gente tem dentro mesmo do
hip hop e do movimento negro, e a ideia não é também só ficar dentro de uma
temática. Então a gente mistura. É
vivência mas também é se apropriar do conhecimento e ao mesmo tempo se apropriar
da técnica, né meu? Quem for esperar a apresentação aí com a rapaziada é isso. Tentar ouvir uma música que dá pra entender, que dê pra degustar, mas sair
minimamente perceptivo sobre o nosso papel até agora nessa realidade, o que é que
a gente faz nessa terra, tá ligado? Com tanta coisas ao nosso redor, tanta coisa
negativa também na forma como a gente vive, acho que é isso.
Samuel Porfirio: A pergunta que eu
vou fazer agora é uma das perguntas mais comum que o ser humano pode fazer pro
outro, só que se for de artistas, raramente eu tenho perguntado porque, só
quando tem me chamado muita atenção. Por
que o nome Ba Kimbuta?
Ba Kimbuta: teve uma época que o primeiro nome de registro era Luciano da Roda. E aí a gente vai entendendo o porque
do nome e qual o significado do nome que a gente tem de registro e a gente vai
ver que são vários nomes que foram dados e não tinham significados e
identidade. E teve uma época que eu usava PretoBa. E aí nesse
processo de resgate de identidade eu, numa pesquisa, descolei Kimbuta. E Kimbuta é a busca da maturidade, é nigeriano. Pra tá vivenciando uma parada num
pais que segrega as pessoas, um pais que excluir as pessoas, num pais que não
está preocupado com a humanidade das pessoas, é preciso muita maturidade e
equilíbrio, né mano. E essa é a busca.
Samuel Porfirio: E é difícil mesmo o que
eu te falei e é porque é verdade, raramente pergunto o significado do nome, só
quando realmente me chama atenção, e isso é uma pergunta que eu já queria fazer
há muito tempo, e calhou de fazer hoje aqui no Reação. Bom, a ideia é sempre bem
positiva falar com um artista do seu gabarito, da sua importância, então deixa
um salve aí pro pessoal do Reação Hip Hop, que vem toda segunda feira pra cá.
Ba Kimbuta: Bom, vamos vir, vamos
ocupar, os espaços da quebrada devem ser ocupados mesmo, e com certeza um
espaço de qualidade, um espaço que proporciona literatura, conhecimento e
música de qualidade, e que se preocupa com o que está ao redor, é isso
que a comunidade tá precisando, que as favelas
estão precisando, não vamos esquecer que as favela vertical, também moro na
favela vertical, CDHU do jardim primavera, Mauá, e é isso, a gente vai precisar
movimentar porque o poder público infelizmente já esqueceu nós, tá ligado? Da
hora, me sinto mó contemplado de estar na rua, e ver essa energia e ver essa
mulherada, e todo mundo aí.
Samuel Porfirio: É muito loco, e se tivesse
alguma dúvida, pela camisa que você está trajando hoje que é o do Tim Maia, que
é o cara que eu mais admiro na música, já ganhou mesmo, valeu! mó satisfação de
estar apresentando o evento hoje e esse é mais um Rolê de Ideia com Samuel
Porfirio e Ba kimbuta. Tamujunto família e até o próximo!
Edição/Retextualização: Aline Leão
Captação de áudio: Victor Goes (Dollyinho)
Apoio: Pelaarteazuera
As fotos do show estão lá na página do Reação Hip Hop no Facebook. Acesse:
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