Viegas é o entrevistado da edição nº 17 do Rolê de Ideia, e o músico traz diversas informações sobre o novo trabalho, o que ele oferece de inovação e continuidade em relação aos seus trabalhos anteriores, e inclusive deixa claro a sua visão sobre a necessidade de se ter mais eventos culturais na quebrada. O lançamento da sua mais recente música, Gueto, ocorreu no palco do Reação Hip Hop, e é nesse clima que a troca de ideia acontece.
Samuel Porfirio: Hoje estamos com Viegas lançando a música Gueto. Fala do lançamento, do que a Gueto traz para o seu show e que já
vinha do outro trabalho?
Viegas: A primeira coisa, pra mim
uma das mais importantes, não desmerecendo o trabalho que eu tinha antes, mas
valorizando o que vai vir agora, é que esse trabalho é todo autoral. O trabalho
anterior, VIVER É ACREDITAR, ele era um trabalho que tinha riddim né?
Aquele trabalho que muita gente faz. Pega as bases jamaicanas que já
existem e que outros autores também cantam em cima, e ai eles acabam usando
essas mesmas bases e tal. Esse disco não, eu já usei uma batida de um amigo
meu, Dj Bandeira, de Porto Alegre, ai nele o Junior Nascimento gravou as
guitarras e tal, a gente chamou mais uma galera pra gravar os metais, chamamos
um brother pra arranjar esses metais. Então ele já tem muito mais das coisas
que eu acredito musicalmente falando, e é uma música que sintetiza um momento
da minha vida muito foda. Há muito tempo eu queria fazer uma parada que
mostrasse a diversidade das coisas que eu já vivi, e que eu vejo que muitas
pessoas da minha quebrada ainda vivem, tá ligado? Que era um lance de: eu sou pobre, eu tive
várias oportunidades de fazer coisas erradas e fiz várias coisas erradas, mas
na mesma quebrada que eu vivo há 29 anos tem gente estudando, fazendo
faculdade, outro está levantando o muro como pedreiro, tem uma senhora que está
lavando roupa, tem alguém que acordou 4 da manhã pra trabalhar de porteiro. Tem
todo tipo de gente e todo tipo de raça, tá ligado? É sobre isso que eu quis mostrar
na minha música, a diversidade de pessoas que têm lá, várias histórias, e ainda
assim você tem os dois caminhos, o do bem e o do mal e isso não define o que
você vai seguir, tá ligado?
Samuel Porfirio: Acaba até
voltando pra uma cadência junto a do Brasil
Multicolor, o gueto é multicolor! Como que você, de Juscelino, vizinho da
COHAB II, enxerga o Reação Hip Hop num bairro dormitório? É uma pergunta
que eu faço pra diversos artistas que vem aqui, porque é onde marca a importância
de um evento como esse na nossa quebrada, como você percebe o evento e do
porquê realizar aqui esse lançamento?
Viegas: Cara, eu poderia falar
sobre várias vantagens do Reação, mas eu prefiro falar de um problema que ele
tem, que é de faltar em todas as quebradas. Todas as quebradas deveriam ter um pouco disso, eu acho que todo mundo ai que
faz parte direto ou indiretamente está de parabéns. Porque se o Estado ou o
governo tivesse um mínimo de atitude como a galera que está colocando a mão na massa e fazendo muita coisa iria ser diferente. É um espaço pra quem quer fazer música, pra quem quer
fazer um curso, pra quem quer ver um filme. São coisas que são entretenimento,
mas funcionam num outro esquema, tá ligado?
Que é uma parada de você proporcionar ao jovem a possibilidade de ele ver outros caminhos que ele pode seguir.
E não aquele lance que o cara acredita que nasceu pra ser alguém na vida, então
precisa fazer aquela faculdade de administração de empresas. O cara na periferia não pode pensar em arte, tá ligado? Porque ele não tem recurso e nada é viabilizado pra que ele possa ser
um artista. Eu acho que aqui, o fato de vocês trazerem artistas que já têm um
nome na cena e que vivem da coisa e dar oportunidade pra quem está começando é
importante, porque você coloca todo mundo no mesmo degrau, tá ligado? No mesmo
patamar, e o cara vê que aquilo não é coisa de outro mundo e que ele pode
também fazer isso e se interessar por outras coisas. Só acho que vocês tem que
fazer mais filiais ai, só isso.
Samuel Porfirio: Fica ai uma dica
dahora. Na moral, seus fãs estão esperando seu novo trabalho né, após o trabalho do Brasil
Multicolor, o EP, e aquela mixtape também, com outras músicas e que eu gosto
muito. Dentro dos seus fãs eu também me incluo, independente da profissão que a
gente compartilha e de como que é colocar um disco na rua, todo o trabalho que
é... O show de hoje já traz um pouco do trabalho que está vindo ou ainda são as
músicas mais conhecidas da galera?
Viegas: Cara, um pouco, talvez só
pelo fato de que hoje a gente vai tocar Gueto. O show em si não, porque a
intenção está sendo fazer pelo menos o lançamento, alguns shows de lançamento inteiro com banda, e pra isso você assim como eu sabe muito bem,
grana... pessoas... Isso é bem complicado
de lidar no mundo que a gente vive, nessa cena independente, sem grana e fazer
com que outras pessoas acreditem no seu sonho e vivam esse sonho da mesma forma
é muito difícil. Mas o que eu posso adiantar pra galera é que será um CD bem
diversificado, com muita influência musical, alquimia sonora, desde de Dubstep, Rap, Rock, tem muita coisa ai. E vai vim um pouco mais dessa linguagem. Muita
gente quando ouviu o primeiro trabalho ouviu um CD mais Reggae, né? Como eu
disse antes isso pelo fato dos riddins, que foi a maneira como a gente conseguiu fazer.
E agora não, esse disco já vem com uma linguagem um pouco mais Hip Hop também,
mas com as minhas influências do Reggae e de outras coisas que gosto da música
brasileira.
Samuel Porfirio: Sou fã assumido
seu, parceiro mesmo, somos contemporâneos ai. Gueto! Muito sucesso, saúde pra
você, meu irmão... Acredito que essa seja uma nova caminhada como vai ser uma
nova caminhada para o Engrenagem também daqui pra frente. Bom, deixa um salve
para os seus fãs, um salve para o pessoal que frequenta o Reação Hip Hop, faz um
apelo pro pessoal continuar frequentando
essa parada, os seus contatos.... Esses espaço ai é seu!
Viegas: Cara, eu vou falar uma
coisa muito importante. Individualmente quando a gente vai pro rolê, quando a
gente conversa com amigos e familiares, as pessoas têm um hábito muito forte de
falarem do governo, a presidenta, o prefeito e no geral acharem um culpado. Quando na real, se a gente
individualmente começar a trabalhar algumas coisas com o nosso amigo do lado,
com o nosso vizinho e familiar muita coisa vai mudar. Para as pessoas que
acreditam que esse espaço pode um dia ganhar outras filiais, por exemplo, como
eu tinha brincado com você e que tem um total fundo de verdade, e pra que esse
espaço permaneça e se fortaleça cada vez mais as pessoas tem que vir, tem que frequentar
e não é vir por vir. Se você vem nessa parada
você tem que vir pra somar, você tem que vir aqui pra saber o que tá rolando,
se interar e participar da parada e não simplesmente pra fazer peso, porque é
isso daí que vai fazer com que as coisas passem a melhorar tanto para o Reação
quanto pra outros lugares ai começarem a reagir também, e obrigado pelo espaço
aí.
Edição/Retextualização: Aline Leão
Captação de áudio: Victor Goes (Dollyinho)
Apoio: Pelaarteazuera
As demais fotos do show estão lá na página do Reação Hip Hop no Facebook. Acesse:
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