25 agosto, 2014

EDIÇÃO 17 - ROLÊ DE IDEIA COM: VIEGAS





Viegas é o entrevistado da edição nº 17 do Rolê de Ideia, e o músico traz diversas informações sobre o novo trabalho, o que ele oferece de inovação e continuidade em relação aos seus trabalhos anteriores, e inclusive deixa claro a sua visão sobre a necessidade de se ter mais eventos culturais na quebrada. O lançamento da sua mais recente música, Gueto, ocorreu no palco do Reação Hip Hop, e é nesse clima que a troca de ideia acontece. 

Samuel Porfirio:  Hoje estamos com Viegas lançando a música Gueto. Fala do lançamento, do que a Gueto  traz para o seu show e que já vinha do outro trabalho?

Viegas: A primeira coisa, pra mim uma das mais importantes, não desmerecendo o trabalho que eu tinha antes, mas valorizando o que vai vir agora, é que esse trabalho é todo autoral. O trabalho anterior, VIVER É ACREDITAR, ele era um trabalho que tinha riddim né? Aquele trabalho que muita gente faz. Pega as bases jamaicanas que já existem e que outros autores também cantam em cima, e ai eles acabam usando essas mesmas bases e tal. Esse disco não, eu já usei uma batida de um amigo meu, Dj Bandeira, de Porto Alegre, ai nele o Junior Nascimento gravou as guitarras e tal, a gente chamou mais uma galera pra gravar os metais, chamamos um brother pra arranjar esses metais. Então ele já tem muito mais das coisas que eu acredito musicalmente falando, e é uma música que sintetiza um momento da minha vida muito foda. Há muito tempo eu queria fazer uma parada que mostrasse a diversidade das coisas que eu já vivi, e que eu vejo que muitas pessoas da minha quebrada ainda vivem, tá ligado?  Que era um lance de: eu sou pobre, eu tive várias oportunidades de fazer coisas erradas e fiz várias coisas erradas, mas na mesma quebrada que eu vivo há 29 anos tem gente estudando, fazendo faculdade, outro está levantando o muro como pedreiro, tem uma senhora que está lavando roupa, tem alguém que acordou 4 da manhã pra trabalhar de porteiro. Tem todo tipo de gente e todo tipo de raça, tá ligado? É sobre isso que eu quis mostrar na minha música, a diversidade de pessoas que têm lá, várias histórias, e ainda assim você tem os dois caminhos, o do bem e o do mal e isso não define o que você vai seguir, tá ligado?

Samuel Porfirio: Acaba até voltando pra uma cadência junto a do Brasil Multicolor, o gueto é multicolor! Como que  você, de Juscelino, vizinho da COHAB II, enxerga o Reação Hip Hop num bairro dormitório? É uma pergunta que eu faço pra diversos artistas que vem aqui, porque é onde marca a importância de um evento como esse na nossa quebrada, como você percebe o evento e do porquê realizar aqui esse lançamento?

Viegas: Cara, eu poderia falar sobre várias vantagens do Reação, mas eu prefiro falar de um problema que ele tem, que é de faltar em todas as quebradas. Todas as quebradas deveriam ter  um pouco disso, eu acho que todo mundo ai que faz parte direto ou indiretamente está de parabéns. Porque se o Estado ou o governo tivesse um mínimo de atitude como a galera  que está colocando a mão na massa e fazendo muita coisa iria ser diferente. É um espaço pra quem quer fazer música, pra quem quer fazer um curso, pra quem quer ver um filme. São coisas que são entretenimento, mas funcionam num outro esquema, tá ligado?  Que é uma parada de você proporcionar ao jovem a possibilidade de ele ver outros caminhos que ele pode seguir. E não aquele lance que o cara acredita que nasceu pra ser alguém na vida, então precisa fazer aquela faculdade de administração de empresas.  O cara na periferia não pode pensar em arte, tá ligado? Porque ele não tem recurso e nada é viabilizado pra que ele possa ser um artista. Eu acho que aqui, o fato de vocês trazerem artistas que já têm um nome na cena e que vivem da coisa e dar oportunidade pra quem está começando é importante, porque você coloca todo mundo no mesmo degrau, tá ligado? No mesmo patamar, e o cara vê que aquilo não é coisa de outro mundo e que ele pode também fazer isso e se interessar por outras coisas. Só acho que vocês tem que fazer mais filiais ai, só isso.

Samuel Porfirio: Fica ai uma dica dahora. Na moral, seus fãs estão esperando seu novo trabalho né, após o trabalho do Brasil Multicolor, o EP, e aquela mixtape também, com outras músicas e que eu gosto muito. Dentro dos seus fãs eu também me incluo, independente da profissão que a gente compartilha e de como que é colocar um disco na rua, todo o trabalho que é... O show de hoje já traz um pouco do trabalho que está vindo ou ainda são as músicas mais conhecidas da galera?

Viegas: Cara, um pouco, talvez só pelo fato de que hoje a gente vai tocar Gueto. O show em si não, porque a intenção está sendo fazer pelo menos o lançamento, alguns shows de lançamento inteiro com banda, e pra isso você assim como eu sabe muito bem, grana... pessoas... Isso é bem  complicado de lidar no mundo que a gente vive, nessa cena independente, sem grana e fazer com que outras pessoas acreditem no seu sonho e vivam esse sonho da mesma forma é muito difícil. Mas o que eu posso adiantar pra galera é que será um CD bem diversificado, com muita influência musical, alquimia sonora, desde de Dubstep, Rap, Rock, tem muita coisa ai. E vai vim um pouco mais dessa linguagem. Muita gente quando ouviu o primeiro trabalho ouviu um CD mais Reggae, né? Como eu disse antes isso pelo fato dos riddins, que foi a maneira como a gente conseguiu fazer. E agora não, esse disco já vem com uma linguagem um pouco mais Hip Hop também, mas com as minhas influências do Reggae e de outras coisas que gosto da música brasileira.

Samuel Porfirio: Sou fã assumido seu, parceiro mesmo, somos contemporâneos ai. Gueto! Muito sucesso, saúde pra você, meu irmão... Acredito que essa seja uma nova caminhada como vai ser uma nova caminhada para o Engrenagem também daqui pra frente. Bom, deixa um salve para os seus fãs, um salve para o pessoal que frequenta o Reação Hip Hop, faz um apelo pro pessoal  continuar frequentando essa parada, os seus contatos.... Esses espaço ai é seu!

Viegas: Cara, eu vou falar uma coisa muito importante. Individualmente quando a gente vai pro rolê, quando a gente conversa com amigos e familiares, as pessoas têm um hábito muito forte de falarem do governo, a presidenta, o prefeito e no geral  acharem um culpado. Quando na real, se a gente individualmente começar a trabalhar algumas coisas com o nosso amigo do lado, com o nosso vizinho e familiar muita coisa vai mudar. Para as pessoas que acreditam que esse espaço pode um dia ganhar outras filiais, por exemplo, como eu tinha brincado com você e que tem um total fundo de verdade, e pra que esse espaço permaneça e se fortaleça cada vez mais as pessoas tem que vir, tem que frequentar e não é vir por vir. Se você vem nessa parada  você tem que vir pra somar, você tem que vir aqui pra saber o que tá rolando, se interar e participar da parada e não simplesmente pra fazer peso, porque é isso daí que vai fazer com que as coisas passem a melhorar tanto para o Reação quanto pra outros lugares ai começarem a reagir também, e obrigado pelo espaço aí. 

Edição/Retextualização: Aline Leão
Captação de áudio: Victor Goes (Dollyinho)
Apoio: Pelaarteazuera












As demais  fotos do show estão lá na página do Reação Hip Hop no Facebook. Acesse: 

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